por: Jean Marcel Ragugnetti Furlaneto
e-mail: jeanmarcelfurlaneto@gmail.com
Muito embora o mercado de inoculantes no Brasil esteja em um patamar dos mais elevados no mundo, ainda é decorrente enfrentarmos meias verdades, ou mesmo mitos. O que nos leva a nos depararmos com tais posicionamentos tem muitas vertentes, indo desde aspectos comerciais (vender produto A ou B, em detrimento de C), até interpretações errôneas de pesquisas científicas. Desta maneira, nós da LABORAGRO®, presando por nossos parceiros elaboramos um guia rápido, a fim de responder algumas perguntas decorrentes e esclarecer alguns mitos, meias verdades e verdades.
Vamos apresentar neste artigo alguns aspectos, que propiciam ao nosso amigo cliente, e parceiro a desmistificar e se preparar melhor tecnicamente para os desafios da sua cultura. Vamos lá?4
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- Não é preciso inocular “áreas velhas”, tradicionalmente cultivadas com soja e que já receberam inoculantes. MITO
Após intensas pesquisas, com mais de 300 ensaios, ficou demonstrado que, em média, a “reinoculação” anual resulta em um incremento médio de 8%, o que significa muito lucro para o agricultor. A interpretação que se dá é a de que após preparar o solo com bactérias, há colonização deste, e teremos a presença delas ao longo do tempo. Em partes podemos sim ter a presença de bactéria, mas temos que nos lembrar que a relação delas é simbiótica, dependendo da planta para se manter ativa e viva. Desta maneira, é crucial inocular todo o ano, de forma a garantir presença de bactérias ativas
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- As bactérias não conseguem suprir as necessidades de genótipos altamente produtivos, sendo necessário aplicar N-fertilizante. MITO
Já ficou demonstrado, em todas as situações investigadas (diferentes sistemas de preparo do solo, rotação de culturas, ciclos de planta, hábitos de crescimento, genótipos transgênicos e convencionais) que as bactérias disponíveis nos inoculantes conseguem suprir todo o N necessário para altos rendimentos, não havendo resposta aos fertilizantes nitrogenados. Mas, é claro, lembrando que o agricultor precisa fazer a reinoculação anual, de maneira adequada. Outro ponto que podemos destacar é que o pico da demanda de nitrogênio pela cultura da soja ocorre por volta dos 90 dias, período no qual os nódulos estão plenamente ativos, e onde a aplicação de fertilizantes nitrogenados já se perdeu, por lixiviação e demais intempéries.
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- Posso economizar fazendo meu próprio inoculante. MITO
Primeiro levo a você meu amigo leitor, a raciocinar da seguinte maneira: as bactérias constituintes do inoculante foram separadas, classificadas e preparadas de forma a estarem livres de contaminantes, e demais microorganismos indesejáveis, em laboratórios preparados. Qual garantia temos que ao preparar os produtos “on farm”, teremos apenas as bactérias selecionados inicialmente? O inoculante, embora seja um insumo barato, requer alta tecnologia e ambiente estéril para ser produzido. Talvez o problema mais sério que a FBN enfrenta é o do crescimento do tratamento industrial e “on farm” de sementes, com tempo de armazenamento longo. Infelizmente, todos os testes que temos feito indicam morte acentuada das bactérias a partir de 5-10 dias. Em nenhum caso encontramos boa sobrevivência em períodos superiores a isso. Em prazos maiores, de 30, 45 dias, com frequência temos observado zero de sobrevivência.
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- Não vale a pena inocular, porque existe incompatibilidade com agroquímicos e eu tenho que tratar minhas sementes com agrotóxicos e micronutrientes. MITO
Pode ser verdade, mas não inocular vai levar a prejuízos. As alternativas já confirmadas por pesquisas, e a campo, mostram que usar concentração elevada de bactérias e semear o mais depressa possível, ou inoculação no sulco, com 2,5 a três vezes a dose recomendada para as sementes apresentam os melhores resultados. Em relação ao cobalto (Co) e molibdênio (Mo), eles podem ser aplicados via foliar, na mesma concentração que seriam aplicados nas sementes, desde que até no máximo 30 dias após a emergência.
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- Azospirillum em excesso atrapalha o desenvolvimento cultural da soja. VERDADE
Devemos nos lembrar que o Azospirillum age estimulando o desenvolvimento de raízes e outros processos fisiológicos da planta, resultando em maior nodulação e, consequentemente, mais fixação de N. Essas duas bactérias são perfeitamente compatíveis e podem ser aplicadas tanto via sementes quanto via sulco de semeadura. Deve-se observar, no entanto, que o inoculante à base de Azospirillum é limitado a 01 dose/ha via sementes ou a 02 doses/ha via sulco de semeadura, sob pena de, em excesso, promover efeitos negativos à planta. Em regra geral para não errar: para cada duas doses ou mais de Bradyrhizobium usamos uma dose de Azospirillum. Como é comum, via sulco de plantio dobramos a dose.
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- Em áreas novas de cultivo de soja, ou de primeiro ano do cultivo devo dobrara dose a ser utilizada. VERDADE
Em áreas de primeiro ano de cultivo de soja, sem uma população estabelecida de Bradyrhizobium, a cultura é altamente dependente da inoculação, caso em que no mínimo duas doses do inoculante devem ser aplicadas. Outro ponto que segue a mesma premissa, são as áreas de renovação de canavial. Devido ao uso excessivo de agroquímicos na cultura anterior, recomenda-se pelo menos dobrar a dosagem de inoculantes a serem aplicados na área.
- O tratamento químico de sementes prejudica a utilização de inoculantes. MEIA VERDADE
Nesse contexto, é preciso garantir que outras práticas e tecnologias empregadas na cultura não venham a interferir negativamente na sobrevivência das bactérias inoculadas. Atenção especial deve ser dada aos produtos químicos empregados no tratamento de sementes (TS), visto que vários produtos, não necessariamente seus ingredientes ativos, mas em muitos casos a formulação, são tóxicos às bactérias e podem reduzir a nodulação. Nesse caso, deve-se evitar a aplicação de produtos químicos concomitantemente ao inoculante. Sendo necessário o uso de produtos químicos no TS, deve-se aplicar o inoculante por último, após a secagem dos produtos aplicados no TS. Nesses casos, recomenda-se aumentar a dose do inoculante, usar formulação turfosa, ou ainda empregar inoculantes especiais, que contêm protetores celulares, de modo a minimizar os efeitos negativos dos produtos químicos.
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- É necessário a fertilização complementar de N mineral após a inoculação. MITO
Outro problema recorrente que pode prejudicar a FBN são os argumentos que emergem de tempos em tempos quanto à eventual necessidade de complementação de N mineral na cultura da soja. A pesquisa tem demonstrado que, desde que boas práticas de inoculação tenham sido adotadas, garantindo que a bactéria inoculada permaneça viável em número suficiente até o momento da semeadura, não há qualquer resposta que justifique a adubação nitrogenada na cultura da soja, seja qual for a época de aplicação, tipo de crescimento, ciclo, níveis de produtividade etc. A possibilidade de resposta da cultura ao N mineral poderá ocorrer quando as boas práticas de inoculação não forem observadas, mesmo assim são antieconômicas na grande maioria das vezes. Além disso, os fertilizantes nitrogenados são aproveitados, nas melhores condições, em cerca de 50%, sendo o restante perdido por lixiviação na forma de nitrato, vindo a contaminar corpos aquáticos, ou é perdido para a atmosfera, na forma de gases efeito estufa, como o óxido nitroso resultante da desnitrificação. Assim, a aplicação de fertilizante nitrogenado em soja, além de não ser viável economicamente, também é um agravante às questões ambientais, o que pode inclusive afetar negativamente a imagem da soja brasileira no mercado internacional.
E aí, como se saiu? Se surpreendeu com alguma informação? Ficou com alguma dúvida? Nos procure, pois teremos a imensa satisfação em atende-los!